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A Poesia Desconhecida

A Poesia Desconhecida

06
Abr24

A JUDIA ERRANTE

Talis Andrade

Gaston Bussiere salome.jpg

 

O veneno da propaganda

estigmatizava os judeus

como desviantes sexuais

De Ahasverus o amor

da rainha Salomé III

que pediu a cabeça

de João Batista

em uma bandeja de prata

como recompensa

por ter dançado

com volúpia e graça

para o tio padrasto

o rei Herodes Antipas

perdido de amores

o coração despertado

por incestuoso desejo

o coração alentado

pela conquista

do ansiado gozo

 

A aparição

de uma parceira

mais uma razão

para se temer

o povo judeu

o inimigo interno

a ser expulso

de todas as fronteiras

 
 
- - -

Livro O Judeu Errante, Talis Andrade

Imagem A dança de Salomé ou a borboleta de carvalho, Gaston Bussiere

03
Abr24

CANIBALISMO JUDEU

Talis Andrade

 

Pieter_Bruegel_the_Elder_-_Justice inquisicao.jpg

 

Desde os tempos

da conquista de Pompeu

acreditavam os romanos

os judeus comiam carne humana

 

Os cristãos queimaram na fogueira

israelitas denunciados

por comemorar a Páscoa

com a crucificação de meninos

e servir em uma ceia de sabá

a carne dos sacrificados 
 


 - - -

Livro inedito O Judeu Errante, Talis Andrade

Imagem Justiça, 1559, Pieter Bruegel the Elder



 
 

26
Jan24

O BANQUEIRO

Talis Andrade

Karl_Bauer lutero.jpg

 

O precito errante

teria trinta e três anos

ao cruzar com Jesus

 

Nas caricaturas

a aparência tensa

de um usurário

um extorsionário

contrapondo-se a Jesus

que ensinou

- Emprestai

sem esperar

recompensa

 

Lutero esbravejava

- Quando Judas enforcou-se

os judeus com pratos de prata

jarros de ouro

foram recolher

a urina

a merda

Comeram beberam

adquiriram olhos penetrantes

de aves de rapina

Quando Deus e os anjos

ouvem peidar um judeu

quantas gargalhadas

quantas bumba-canastras 
 
 
- - -

o jude errante, talis andrade

lutero, karl bauer

26
Jan24

A CRUZ DE FOGO

Talis Andrade

Charles_Francois_Pinot cruz judeu.jpg

 

Cronistas a serviço da Santa Inquisição

lavraram os anônimos depoimentos

dos que falaram com o precito errante

A um bispo armênio a afirmação

de que foi porteiro do palácio de Pilatos

De uma freira de Lindenberg a revelação

o precito errante traz na fronte

a marca de Caim

a Cruz de Fogo

a cruz alada girando

Constantino viu no céu

 

A Marca de Caim

os caçadores de bruxas

malsinavam

a cor dos cabelos vermelhos

os escravocratas

a cor da pele negra

 

A história não narra

o que os homens sofrem

o que os homens choram

A perda do sentimento do passado

esconde os cadáveres 
 
 
 - - -

o judeu errante, talis andrade

 

26
Jan24

A VIDA UM JOGO 

Talis Andrade

Georges_de_La_Tour_- jogo.jpg

 

A emoção

 

o risco

que se corre

embora se lute para vencer

 

Não há prazer no jogo

com cartas marcadas

possuir sete fôlegos

sete couros

 

Quanto maior o perigo

o gosto

de querer viver
 

Quanto maior o perigo

o prazer de ver o rosto

do inimigo

Quanto maior o perigo

mais disposto

mais intenso o júbilo

o gosto de querer

viver

 

 - - -

o judeu errante, talis andrade

A fraude com o ás de ouros, c. 1635, georges de la tour

14
Set17

O VENTO É SEMPRE ÁSPERO, por Adriano Marcena

Talis Andrade

adriano-marcena.jpg

 Adriano Marcena

 

Talis Andrade é amigo das palavras, primo da aliteração, sobrinho da alegoria, cunhado da versificação. Poeta-ser é conceber o desabafo da carne, músculos e entranhas. Talis não é inofensivo e sua receita po-ética não aceita adoçante, quando mais açúcar! É um poeta movido pela aspereza do diabetes simbólico recriando seu interior de homem-solitário escaldado pela vida boêmia literária. Fácil é perceber a fisgada certeira com que ele consegue apreender o fígado da poesia, o baço da palavra, a cefaléia da pontuação. Talis também é meio grego, não grego-romano, mas grego-pernambucano, pois ali está o cheiro dos trópicos apri- sionados ou escaneados no papel inofensivo. Todo poeta é covarde pelo simples fato de oprimir as folhas em branco diante de si. Entre a dor e o poeta reside a poesia, entre Talis e a vida existe o amor por uma leveza que se aprisiona ao vento, cortando as amantes, serrando os ouvidos, sufocando as virilhas, apalpando os desejos, esses crudelíssimos desejos, perdidos em monólogos madrugais. Entre o poeta e a dor o vento sopra como se pusesse os nervos para bailarem suavemente: o poeta é um nervo que não suporta nem o prenúncio do vento. “A flor do sexo/ a lascívia/ a amante entrando quarto a dentro dos antigos olhos/ a faca fria/ a bala quente/ a ronda dos ricos/ a mulher que tropeça pela casa/ os gritos que não nos deixam em paz/ a profana recordação/ o enforcado da rainha preso à teia da ilusão…” Talis quebra tabus grudados em poetas. De sua pena contemporânea desnuda-se, diante de nossas retinas, o próprio enforcado: suas artérias expostas à brisa consoladora, suas vísceras se decompõem, se reciclam em água humana, mas por trás do enforcado resiste e triunfa o poeta vivo, o poeta nu, o poeta do pó das letras, o poeta da dor sincera que finge existir, o poeta tentando encontrar o tinteiro e o mata-borrão para se defender, atemorizado, da leveza delicada da filha mais jovem do vento que lhe excita em pleno sol do meio-dia. Todo grande poeta tem medo do vento. Talis, é bom saber que você só está enforcado no livro. Sobre algum mangue soterrado, parabenizo pelo livro, poeta!

 

capa_o_enforcado_da_rainha.jpg

 

 

 

 

 

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