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A Poesia Desconhecida

A Poesia Desconhecida

18
Dez23

CÃES DE CAÇA

Talis Andrade

 

20 de março Iara Iavelberg fonte site doc revelados foto 2

 

                       No embalo

                       de ser jovem

                       Yara Iavelberg

                       com um revólver

                       sem bala

                       foi à procura                      

                       do Capitão

                      

                       Nos abrigos

                       que encontrava refúgio

                       o Capitão

                       havia se mudado              

                       de véspera

 

                       Encantada pelos sonhos

                       Yara não tinha malícia

                       e na busca do amante

                      não media

                      o poder da polícia

 

                      Escrevia cartas

                      vagou por cidades

                      e aldeias

                      esperando um encontro

                      de amor

 

                      Yara não sabia

                      a polícia tem espias

                      cães adestrados

                      cães fareja              

                      dores dos odores

                      da primeira menstruação

                      e do primeiro orgasmo

 

                      Os espias

                      cães de caça

                      treinados danados 

                      cães com raiva                 

                      nunca perdem um inimigo 

 

                       Encantada pelos sonhos

                       Yara apenas possuía

                       um revólver sem bala

                       um coração de menina

                       apaixonada pelo Homem  

 

- - -

livro o enforcado da rainha   

imagem cartaz do regime militar de 1964 [Iara é a primeira da direita para esquerda]

11
Mai18

Napoleão Bonaparte. A marcha fúnebre (ato 8)

Talis Andrade

A-Retirada-de-Napoleão-de-Moscou_Adolph-Northen-c

 

 

No cruel desterro

destes mares

a carne dilacerada 

as feridas sangrando

revejo os cadáveres 

que alicerçaram

minha passagem

 

Meu espectro passeia

por fileiras e fileiras

de corpos enterrados

nas encruzilhadas

de corpos abandonados

nos campos nevados

 

Na lenta agonia

da cruentação

revejo os corpos

dos meus soldados

 

A carne podre

estrume

adubo da terra

outros soldados

repisarão

 

Funéreo destino

dos exércitos

marcharem

sobre pilhas

de cadáveres

 

 

 

 

 

 ---

A Retirada de Napoleão de Moscou por

Adolph Northen, 1860

11
Mai18

Napoleão Bonaparte. A expiação (ato 6)

Talis Andrade

Horace-Vernet-Napoleon-s-Tomb.jpg

 

 

Neste ermo

último desterro

o forte ensurdecedor

furor das ondas

reverbera nas negras rochas

abafando-me os queixumes

 

No encerro 

destes mares

não há ritual

nem corte

além da morte

 

A rotina cheira

a urina e estrume

da morte os odores

das flores roxas

 

Nenhum disfarce

nos esconde a face

Ninguém perdoa

os perdedores

 

 

 

 

---

"Túmulo de Napoleon", por
Emile Jean Horace Vernet - óleo sobre tela - 54 x 81 cm - 1821 - (The Wallace Collection (London, United Kingdom))

11
Mai18

Napoleão Bonaparte. O poder (ato 4)

Talis Andrade

 

Jean-auguste-dominique-Ingres-Napoleon-as-Jupiter-

 

Os tronos não passam

de meras cadeiras

os assentos forrados de seda

 

A seda do manto real

o manto que protege e cura

a seda que cobre e desnuda

o corpo das cortesãs

a seda que as traças roem

a seda reveste os esquifes

que apodrecem

na terra úmida

 

Os tronos um símbolo

Os tronos não passam

de meras cadeiras

de vetusta madeira

recoberta com reluzentes

lâminas de ouro

 

Um símbolo imposto

que não há poder que perdure

nem a monótona paz

nem a aventura

das ditaduras

 

 

---

"Napoleão como júpiter entronizado", por
Jean Auguste Dominique Ingres - óleo sobre tela - 259 x 162 cm - 1806 - (Musée de l'Armée (Paris, France)

10
Dez17

Napoleão Bonaparte. A Justificação (Ato 2)

Talis Andrade

triomphe-taunay.jpg

 

O sangue derramado             

    nas chacinas

o sangue derramado             

    na guilhotina

o sangue derramado             

    nas batalhas

 

corre pelos rios             

os mares

no nosso chão

e terras conquistadas

nos mais distantes             

lugares  

 

O sangue dos justos             

     e dos inocentes

não mancha

a camisa dos príncipes

a bolsa dos mercadores  

 

Não há sequer vestígios             

de lama

nas botas dos generais 
 
 


 

 

---

Ilustração: O Triunfo da Guilhotina,

por Nicolas-Antoine Taunay

10
Dez17

Napoleão Bonaparte. A Proclamação (Ato 1)

Talis Andrade

auto coroação de napoleão.jpg

 

 

A ninguém devo       

   o cetro de imperador

General do povo       

   me coroei com as próprias mãos

Os fiéis soldados       

   me consideram irmão

Os humildes e miseráveis       

    me chamam de pai

Tenho a ovação       

    das multidões 

 

 

---

Ilustração: Coroação de Napoleão Bonaparte (detalhe),

por Jacques-Louis David

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