VALHACOUTO
A cova de Franco
último covil
dos vis sicários
da Guarda Civil
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A cova de Franco
último covil
dos vis sicários
da Guarda Civil
Os enterros solenes
os imponentes túmulos
os deslembrados nomes
assinalados nas lajes
fúnebre vaidade
dos que juntaram fortunas
às custas dos males
que empestam a terra
a escravidão a fome
a corrupção a guerra
Neste e no outro mundo
o dinheiro não compra nada
Em que chão estão enterrados
Moisés Lao-tsé e Confúcio
Acreditam os judeus
que em Hébron
descansam Adão e Eva
Abraão e Isaac
No Valle de los Caídos
dançam o velho Franco
e sua filha Carmen
a vida desventurada
por nao ser coroada
rainha d Espanha
Os potentados esbanjam
fortunas ofícios e artes
na construção de mausoléus
Empilham ricos tesouros
para os violadores
de túmulos
os profanadores
que perambulam
pela noite escura
As flores selvagens
as orquideas e gerânios
os lírios nos campos
encobrem sagrados
perfumados túmulos
encantados túmulos
Nas valas comuns
permanecem invisíveis
as virgens estupradas
Mães operárias
mães camponesas
nutrem com suas carnes
a terra estéril
No ventre d'Espanha
grávida da morte
os corpos dos guerreiros
que não se renderam
Em cada sepultura
sem campa
nas serras e vales
nos montes gelados
no lodo dos lagos
na fonte de lágrimas
os mortos anônimos
malsinam os crimes
do generalíssimo Franco
No azul do céu
nas flores
nos frutos
no vinho generoso
da videira sagrada
a lembrança
Nos verdes gramados
na neve branca
em cada pedaço
do sagrado chão
definitivamente gravado
o nome
Cada recanto da Pátria amada
porque lhe foi negado
um campo santo
guarda
o corpo
O panteão de García Lorca
o coração d´Espanha
Proibido pela censura
o nome de Federico
del Sagrado Corazón de Jesús
García Lorca
não é mencionado
nas cátedras e púlpitos
Mas por todos os cantos
da Velha Espanha
nas ruas do povo
nos campos de concentração
e cavas
escuto o nome inter-
dito secreto nome
sacralizado com sangue
e lágrimas
Lágrimas e sangue
o tempo não lava
Por toda Espanha
o povo sofrido
exige reparação
Todo homem
que sobrevive
clama por justiça
Por toda Espanha
às escondidas
o povo recita
de García Lorca
a imortal poesia
De García Lorca
os enamorados cantam
(e)ternas canções
Na católica Espanha
das mulheres as orações
pela alma de Federico
del Sagrado Corazón de Jesús
Enquanto existir
Andaluzia
o sol a brilhar
enquanto existir
a Poesia
García Lorca
não morrerá
não morrerá
Por toda Espanha o ultrage
da propagada imagem
do "caudilho pela graça
de deus"
Estátuas e bustos
colossos erguidos
nas avenidas e praças
A efígie
nas moedas
A desengraçada cara
a última cena
que se vislumbra
todas as noites
no vídeo
de todas as casas
Por toda Espanha
as cidades ostentam
o celeste nome
imposta condição
de rendição e posse
O nome esculpido
no mármore
o nome gravado
em bronze
o nome reluzindo
em ouro
o nome reluzindo
em prata
Por toda Espanha
nas placas das ruas
nos obeliscos
nos arcos de triunfo
no frontispício
dos edifícios
nos vitrais dos palácios
nas manchetes dos jornais
o nome
Em tudo que o tempo destrói
o nome de Franco
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