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A Poesia Desconhecida

A Poesia Desconhecida

30
Ago23

Ditadura brasileira: procura-se justiça histórica. O caso Eloá Guimarães

Talis Andrade

 

Urariano Mota entrevista Elizabeth Guimarães (segunda parte)

 

Você quer uma reparação histórica da violência que ela sofreu.

Elizabeth – E da família. Ficamos todos presos e desmantelados. Minha mãe se dedicou o resto da vida dela, tias, irmãos, todos. E agora eu também vejo que o trauma sofrido por ela se transformou em diagnóstico de doença mental. E tem influência até hoje nos meus sobrinhos, na quarta geração, porque eles fazem perguntas, e cada um tem uma história, um pedaço, um pedacinho de história. Então isso precisa reintegrar a família, a história, para que esse trauma não seja modificado em outras oportunidades.

 

O que você quer a partir do levantamento desses fatos, dessa tragédia realmente, é uma justiça histórica.

Elizabeth – Exato. O reconhecimento do que ela foi vítima. Uma jovem daquela época. O pânico daqueles anos é inesquecível. Depois da prisão, quando minha irmã estava com o passaporte, se preparando para ir ao Canadá, entrou em crise.

 

Que tipo de crise?

Elizabeth – Quando ela chegou no Rio de Janeiro, ela ficou escondida. Em casas de parentes e parentes. Por quê? Ela não sabia, não sabíamos se alguma polícia vinha atrás dela, depois da prisão.

 

Elizabeth – Logo depois da prisão. Não conseguia dormir. Nunca mais recuperou o equilíbrio. Ela tentou suicídio várias vezes. Cortava os braços. Não sabemos se ela chegou a ser estuprada na prisão, porque tem uma parte do trauma que vira amnésia. Mesmo as descrições do pântano não eram completas.

 

Então a violência é mais grave. Não é só o que fizeram com ela na prisão. Destruíram para sempre a vida dela.

Elizabeth – Claro. Nunca mais voltou a ser a mesma. Houve época em que voltava um surto de “normalidade”. Olha aqui as fotos, tinha períodos “bons”, olha aqui um sorriso lindo, aberto, no princípio, depois ela foi ficando assim, e morreu do coração. Ela faleceu em 2001.

 

Arrastando um desequilíbrio mental de 1969 a 2001.

Elizabeth – Nas fotos, você vê uma doente mental, feliz, enganosamente feliz. Tomando remédio pesado.

Versos de um poema de Eloá Guimarães:

“A cada ponto que eu dava, na paciente arte de bordar
meu coração e minha mente, numa viagem de regressão
buscavam tecendo a lã, uma infinita reorganização de ideias, sentimentos,
migalhas perdidas no passado,
o retorno de uma consciência mais clara,
uma alma mais clara”.

30
Ago23

O VÔO DE FÊNIX

Talis Andrade
 
 


 

Sagrado dom

o poder de não ter medo

o humano medo

de ver face a face

o Anjo da Morte

 

A imortalidade

sagrada chama

da ave maravilhosa

a ave Fênix

eviterna ave

renascida

das milagrosas cinzas 
 

 

30
Ago23

O TERROR DE PRESENCIAR 

Talis Andrade

Henri_Rivire judeu errante.jpg

 

 

Ver o povo de Deus

disperso pelo mundo

indescritível dor

estremece o corpo

 

Ver o Templo destruído

pedra por pedra

além do corpo

da carne podre

indescritível dor

 

Indescritível dor

traspassa o corpo

traspassa a alma

 

- - -

O Judeu Errante

Texto Talis Andrade

Imagem Henri Rivire


 



28
Ago23

Ditadura brasileira: procura-se justiça histórica. O caso Eloá Guimarães

Talis Andrade

 

Como foi que você chegou aqui ao Recife?
Elizabeth: Cheguei aqui por um motivo muito importante, e foi uma viagem espontânea, a partir do momento que foi iniciado com um artigo seu “Tércia, memória da ditadura”, que eu li no Brasil 247, no dia 30 de junho. Nesse artigo o senhor mencionava que o funeral de Tércia em Minas Gerais, e estava ali mencionado pela primeira vez, para os meus olhos, o nome de Mércia Albuquerque. E eu entrei em pânico e em regozijo. O nome de Mércia Albuquerque tem estado em minha memória, na minha vida, no meu coração, muitos e muitos anos. 

 

Por que o nome de Mércia Albuquerque lhe trazia regozijo e pânico?
Sim, porque em 1969 foi o ano em que eu fui para o Canadá. Então poucos dias depois, minha irmã Eloá, quatro anos mais nova que eu, veio ao Recife visitar a amiga Stela, que estava em Londres e veio rever a mãe. Minha irmã Eloá não pôde se conter de rever Stela, e veio aqui passar uns dias. Então, quando Stela voltou para Londres, Eloá ficou aqui no Recife, porque tinha outros amigos que também estavam aqui. No Rio, ela estudava Sociologia e Teatro. Ela veio em agosto para ver Stela. Antes de vir, o meu pai disse a ela: “se você precisar de algum dinheiro no Recife, você procure o senhor fulano de tal, com quem eu tenho negócios, depois eu me acerto com ele. Isso foi em agosto de 1969. Pois bem: a partir do momento em que ela foi encontrar esse senhor que tinha negócio com meu pai, a vida dela se complicou. 

 

Por quê? 
Eu acho que eles almoçaram juntos, ele devia ser um representante de produtos farmacêuticos, e quando minha irmã saiu de lá esqueceu os óculos. Os óculos dela eram necessários, porque ela possuía uma séria infecção de toxoplasmose no olho direito, e estava tomando altíssimas doses de corticoide. Então ela não podia ficar sem os óculos escuros. Então, depois que ela saiu de lá, ligou pra esse senhor e disse “por favor, eu preciso dos meus óculos, mande entregar no endereço assim, assim, porque eu não posso ficar sem eles”. Nessa mesma noite, muito tarde, às 11 e tantas da noite, bateram na porta, ela imediatamente pensou “é o rapaz trazendo os óculos”. Abriu a porta, entraram quatro policiais armados e dali a levaram para a prisão. Isso foi na época em que havia a negociação da troca do embaixador americano Elbrick, sequestrado, por prisioneiros políticos.  

 

Eloá estava com quantos anos na época?

Vinte e dois anos. 

 

Ela foi acusada de quê?
Oficialmente, ela não foi acusada de nada. Ela não pertencia a grupo armado, ela não estava aqui fazendo política. Antes da sua prisão, ela havia visitado um lugar histórico do Recife, comprou livros didáticos, que depois os policiais viram e disseram que aquilo só podia ser coisa política. 

 

Material subversivo, como eles diziam. 
Ah, mas eram livros didáticos, do curso secundário. Então ela ficou na prisão vários dias, e meus pais já estavam preocupadíssimos em Minas. Quando meu pai recebeu uma carta, que eu encontrei muitos anos depois. Essa carta chegou a meus pais, com endereço certo, avisando por exemplo, “não sei se está certo o seu nome e endereço, mas se por acaso for sua filha, tome providência”. E depois, a carta disse: “ela se acha sem finanças, sofrendo assim as piores humilhações. 

 

Ela ficou presa e torturada?
Ela era psicologicamente torturada, porque muitas vezes ela disse que era levada para um pântano, colocavam capuz e botavam revólver na cabeça, ameaçando explodir o seu crânio. E havia também outros momentos em que ela ouviu as falas dos policiais: “mas não é essa moça, a outra loura, e essa é morena”. E isso durou dias e dias. Ela esteve presa na Secretaria de Segurança Pública, no Dops. Presa incomunicável. E o remédio que ela precisava tomar para os olhos foi suspenso bruscamente. A cortisona tomada não podia parar. Então ela acumulou água no corpo. Ficou enorme de gorda, porque o remédio teria que ser diminuído paulatinamente. 

 

Ela passou quantos dias presa?
Eu sei que a carta de uma pessoa avisando a prisão para o meu pai, chegou em setembro. Então, demorou pelo menos um mês. 

 

Quando ela saiu da prisão, houve alguma justificativa? 
Não, Quando recebeu essa carta. meu pai saiu do interior de Minas, foi para o Rio de Janeiro, de lá veio para o Recife. E foi na prisão visitá-la. Agora, eu tenho que mostrar para o senhor trechos do diário do meu pai, onde eu consegui a informação. Nesse diário, ele conta que veio, encontrou com esse senhor com quem mantinha negócios de produtos farmacêuticos, visitaram a Secretaria e num momento depois, ele recebeu a notícia do chefe da Secretaria de Segurança Pública dizendo que a minha irmã havia desmaiado. Então depois disso, o meu pai conseguiu tirá-la e levou-a para um hotel. Um dia depois, ele a levou para o Rio. 

 

Onde foi que Mércia Albuquerque cruza o caminho da sua irmã? 
Nas anotações que eu fiz, a minha irmã descreve que estavam todos os presos numa sala enorme, com as janelas fechadas, incomunicáveis, e aí ela ficava sempre paralisada numa cama de lona, e Mércia chegou depois. Mas a presença dela foi carinhosa, foi uma presença amiga, foi uma presença que impactou a minha irmã. Mércia foi uma pessoa com quem ela podia ter confiança, E minha irmã muitas vezes falava muito de Mércia, quando escrevia. Então Mércia nunca saiu da minha memória, e o seu texto confirmou. 

 

Desde que defendeu Gregório Bezerra em 64, Mércia era a primeira pessoa que os perseguidos ou familiares de presos políticos procurava no Recife. 
Então quando eu vi o nome de Mércia, eu me disse “é agora!”. Eu tenho que continuar a pesquisar na internet. Escrevi para os editores do Brasil 247 e do Vermelho, mas eles não sabiam o seu endereço físico. Então o tempo passou, e um dia estou lá de novo no Canadá, e aprece Mércia Albuquerque Ferreira. Eu falei “o quê?”. Era o Roberto Monte, no primeiro dia em que ele lançou a informação os livros dos diários dela. Então eu passei uma mensagem pra ele e ele respondeu no dia seguinte, emocionado, emocionadíssimo. Então ele confirmou que em 1969 Mércia esteve presa várias vezes. E minha irmã foi na época em que esteve aqui também. Então a única lembrança, a única pista disso tudo era o nome Mércia. Depois, apresentado o sobrenome. 

 

E você chegou a ela a partir daquele texto que escrevi sobre Tércia. 
Sim. Foi o artigo sobre Tércia.

 

O seu trabalho, a sua pesquisa está a meio caminho, Elizabeth. Mais do que começou. 
Sim, graças a toda essa informação. Nesse trabalho agora eu estou tentando apresentá-lo à Comissão da Verdade, porque antes, eu vou lhe dizer: quando houve um movimento acerca dos mortos, desaparecidos e mutilados da ditadura, eu estava no Brasil, eu e minha irmã vimos a notícia no jornal, e olhamos uma para a outra. Ela estava fora da lista.  Ela estava viva, apesar da cabeça estar num sobe e desce. Então foi uma coisa muito triste, ninguém sabia do que havia acontecido com ela. Então eu fiz uma promessa a ela e a mim mesma: de algum dia fazer o possível para o reconhecimento do terror que ela sofreu. (continua)

28
Ago23

Cantora que mora em Portugal representa Brasil em evento com ministros da Cultura do G20

Talis Andrade

 

A cantora brasileira Taïs Reganelli que representou o Brasil em evento de cultura do G20
A cantora brasileira Taïs Reganelli que representou o Brasil em evento de cultura do G20 
 

Taïs Reganelli é uma cantora e compositora brasileira nascida e criada na Suíça, já viveu na Itália e atualmente mora em Lisboa, em Portugal. Ela já gravou discos e cantou em diversos eventos nacionais e internacionais. Desta vez, foi convidada para representar o Brasil na 4ª Reunião do Grupo de Trabalho da Cultura do G20 em Varanasi, na Índia.

RFI - O evento, que transcorreu na histórica cidade indiana de 23 a 26 de agosto de 2023, teve a intenção de discutir propostas e posicionar a cultura no centro da elaboração de políticas do grupo. Além dos países membros do G20, o evento contou com a presença de nações convidadas, como Nigéria, Coreia do Sul, África do Sul, Ilhas Maurício e México.

A reunião se encerrou neste sábado (26) com espetáculos multiculturais e a presença de cerca de 40 de artistas de mais de 20 nacionalidades, além de uma reunião final dos ministros da cultura da qual participou a ministra brasileira Margareth Menezes.

Taïs conta que passou dez dias ensaiando, fazendo arranjos e cocriando com outros artistas e maestros em Varanasi, para realizar uma apresentação única, na qual a intenção foi que cada músico homenageasse seu país de origem.

"Eu acho que foi uma das coisas mais lindas que eu já vivi na minha carreira, vou guardar pra sempre (…) Isso do multicultural é algo realmente impressionante. Teve muita coisa diferente que eu nunca tinha ouvido na minha vida", contou Taïs, se referindo às musicalidades diversas as quais teve a oportunidade de conhecer.

A cantora também relatou as experiências culturais que vivenciou no país do sul asiático, como uma cerimônia de cremação no Rio Ganges. 

Ela, que já foi indicada duas vezes a cantora revelação e melhor álbum no Prêmio da Música Brasileira, abriu recentemente um show de Adriana Calcanhoto em Portugal. "Eu tenho uma trajetória muito bonita, eu tenho muita sorte. Estive em lugares que facilitaram certos encontros", afirmou.

Taïs Reganelli celebra o espaço atual da cultura no governo brasileiro. O Ministério da Cultura (MinC) retornou à ativa no governo Lula, após ter sido transformado em secretaria durante os anos de governo Bolsonaro. Para a artista, a posse de Margareth Menezes como ministra este ano marca "uma volta com mais força" da cultura no país.

26
Ago23

Além de Trump, conheça outros "presos" famosos e suas fotos de fichas criminais

Talis Andrade
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em foto judiciária, durante sua breve passagem pela prisão em Atlanta, 24 de agosto de 2023.
O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, em foto judiciária, durante sua breve passagem pela prisão em Atlanta, 24 de agosto de 2023. © Escritório do xerife do condado de Fulton / via Reuters

 

 

Cara fechada, sobrancelhas suspensas e olhar desafiador. É assim que o site de Le Parisien descreve a expressão de Trump no polêmico clichê tirado na quinta-feira (24), em sua breve passagem pela prisão de Atlanta. Depois de escapar de três acusações legais, o bilionário, desta vez acusado de ter tentado manipular o resultado da eleição presidencial de 2020, não conseguiu se livrar desse “close” constrangedor.

Imediatamente o “instantâneo” tirado pela polícia da capital do Estado da Geórgia ganhou a capa da imprensa americana e deu a volta ao mundo nas redes sociais, continua o diário da capital francesa.

Depois de pagar uma fiança de US$ 200 mil, o favorito das primárias republicanas para a eleição presidencial de 2024 deixou rapidamente a prisão em um comboio sob alta segurança.

O antigo inquilino da Casa Branca agora está fichado como qualquer cidadão processado pela Justiça: 1,90m, 98 kg, cabelos loiros. Número da matrícula? P01135809.

Primeiro ex-presidente americano a ser acusado criminalmente, Donald Trump também se torna o primeiro ex-chefe de estado americano a ser fotografado em processos judiciais. Apesar dos seus múltiplos reveses jurídicos, o republicano, candidato às eleições presidenciais de 2024, tinha conseguido evitar a foto até a última quinta-feira, até porque tal clichê “mugshot” tende a ser uma mancha na reputação das celebridades. Aqui estão seis delas, imortalizadas em poses nem um pouco glamourosas. Mas, em algumas situações, a personalidade soube tirar vantagem da situação.

 

David Bowie: uma foto mantida pela polícia

Preso em 1976 em um hotel por posse de maconha, após um show no Community War Memorial, em Rochester, David Bowie passou a noite na prisão e foi liberado às 7h. Na foto, permanece a elegância do cantor, mesmo num momento pouco agradável e numa situação crítica, já que a posse de drogas era passível de quinze anos de prisão. Esta fotografia foi encontrada em 2007 nos pertences pessoais de um policial de Rochester.

En 1976, David Bowie preso por posse de maconha.
En 1976, David Bowie preso por posse de maconha. Getty Images - Donaldson Collection

 

Patty Hearst e a Síndrome de Estocolmo

Patricia Hearst, neta de um dos maiores chefes da imprensa americana, foi sequestrada em 1974 por um grupo terrorista de extrema esquerda denominado Exército Simbionês de Libertação. Poucos meses depois de seu sequestro, ela declara assumir a causa de seus sequestradores e comete diversos roubos com eles. Um caso que fascinou os americanos na época e que será frequentemente citado mais tarde como exemplo do que é a síndrome de Estocolmo. Patricia Hearst foi presa em São Francisco em 18 de setembro de 1975 e condenada a sete anos de prisão. De vítima de sequestro, ela se tornou culpada.

Patty Hearst em 19 de setembro de 1975 em São Francisco, na Califórnia.
Patty Hearst em 19 de setembro de 1975 em São Francisco, na Califórnia. Getty Images - Donaldson Collection

 

Jane Fonda reverteu a situação

Em 1970, a atriz americana foi presa no aeroporto de Cleveland por tráfico de drogas. Ela posa com o punho erguido, em plena mobilização contra a Guerra do Vietnã. As acusações foram rapidamente retiradas, quando os testes revelaram que a sua mala continha apenas vitaminas. “Com certeza me beneficiei muito com essa prisão”, reconhece hoje a atriz, sempre tão engajada.

Jane Fonda, presa em Cleveland em 03 de novembro de 1970.
Jane Fonda, presa em Cleveland em 03 de novembro de 1970. AP

 

Dilma Rousseff, a combatente da resistência que se tornou presidente

Cabelo curto, óculos grossos, Dilma Rousseff, na década de 1960, lutou contra a ditadura militar no Brasil. Integrante da guerrilha de esquerda, ela se tornou uma das fugitivas mais procuradas do país. Ela foi presa em 1970 e torturada. A futura presidente do Brasil foi então apelidada de "Joana d'Arc da guerrilha".

Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, em foto de 16 de janeiro de 1970.
Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil, em foto de 16 de janeiro de 1970. AFP - HO

 

Jim Morrison: uma lenta descida ao inferno

Agressão indecente, grosseria ou embriaguez em público: Jim Morrison, vocalista do famoso grupo de rock The Doors, foi preso diversas vezes. Durante um show em Miami em 1969, ele quebrou recordes em termos de provocação. Enquanto toca Light My Fire, ele se ajoelha e simula uma relação sexual. Depois finge se despir. A imprensa enlouqueceu e a polícia o prendeu no ano seguinte. Foi o início de uma lenta descida ao inferno...

Jim Morrison, acusado de comportamento indecente em show na Flórida, em 1969.
Jim Morrison, acusado de comportamento indecente em show na Flórida, em 1969. Getty Images - Donaldson Collection

 

Rosa Parks, um sorriso para mudar a história

Em 1º de dezembro de 1955, em Montgomery, Alabama, Rosa Parks foi presa por se recusar a ceder lugar a um homem branco em um ônibus. Embora as fotografias de passaporte tiradas no momento de uma detenção muitas vezes contribuam para desumanizar e criminalizar as pessoas, esta mostra uma jovem com um olhar determinado, que não é, portanto, de forma alguma uma vítima. Começa então uma campanha de boicote à empresa de ônibus de Montgomery para recusar a política de segregação racial vigente no Alabama. Após 381 dias, Suprema Corte norte-americana declara inconstitucionais as leis do Alabama que impõem a segregação racial nos ônibus.

Rosa Parks presa em 01 de dezembro de 1955 no Alabama.
Rosa Parks presa em 01 de dezembro de 1955 no Alabama. AP - Anonymous
18
Ago23

Impunidade comandada pelas autoridades incompetentes ou criminosas. Morta a tiros na Bahia, Bernadete Pacífico teve filho assassinado em território quilombola em 2017 e os assassinos continuam soltos

Talis Andrade
 

Filho de líder quilombola morta na Bahia pede justiça

Filho de líder quilombola morta na Bahia pede justiça

 

Os mandantes e assassinos continuam na trama sangrenta para tomar na marra o Território Quilombola de Pitanga dos Palmares

O deputado federal Daniel Almeida cobrou, em Brasília, apuração rigorosa por parte da polícia e punição para os culpados pela morte do líder quilombola Flávio Gabriel, mais conhecido como Binho do Quilombo, que foi assassinado brutalmente nesta terça-feira (19) no município de Simões Filho. Daniel também manifestou sentimento de pesar e solidariedade aos familiares.

Foi a vez do filho em 19 de setembro de 2017. Agora, trucidaram a mãe de maneira brutal, selvagem e espetacularmente. Num terreiro sagrado de uma religião. Para demonstrar que a Terra de Todos os Santos, desde a ditadura militar de 64 com PT e associados, é Terra sem Lei, é Terra de Todos os Pecados. 

Depois de uma chacina policial de dar inveja as policiais de Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas, os pistoleiros de aluguel invadem um terreiro santo, durante um culto religioso, para trucidar a ialorixá Bernadete Pacífico, de 72 anos, morta a tiros em Simões Filho (BA), na noite de quinta-feira (17/08), na frente de três netos e toda uma comunidade marginalizada como quilombola. 

Estava jurada de morte pelos madeireiros do "passa boiada" de Ricardo Salles e Bolsonaro. Pelo poder maior que não deixa em pé nenhuma árvore mãe que ofereça sombra e liberdade e alimento a todo um povo que fugiu do cativeiro branco e cristão, desde a chegada do primeiro navio tumbeiro. 

Por g1 BA e TV Bahia

Bernadete era líder da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq) e seu assassinato ganhou repercussão nacional. A morte do seu filho voltou a ser citada porque das informações de que o crime segue sem solução.

Flávio Gabriel Pacifico dos Santos, o Binho do Quilombo, foi assassinado há seis anos. Ele também era uma liderança quilombola e atuava no Território Quilombola de Pitanga dos Palmares. O caso começou sendo investigado pela Polícia Civil, mas acabou federalizado há cerca de três anos.

 

 

O caso passou para a Polícia Federal por causa da letargia da Polícia Civil da Bahia em resolver o aso, além de pressões políticas sobre o poder investigativo local. Mesmo assim, a delegada federal que investiga o caso mostrou total desprezo pelo assassinato de Binho. Ela sustenta que o crime foi fruto de rixa local, mas falar isso é desconhecer totalmente a realidade dos quilombolas no Brasil", argumentou o advogado da família, David Mendez.

 

De acordo com a Polícia Federal, a morte de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos está sendo apurada em inquérito policial e "todos os esforços estão sendo empregados para a devida apuração da autoria". A PF disse ainda que as investigações seguem em sigilo.

O advogado da família destacou que, na época em que Binho foi morto, ele recebia ameaças porque lutava contra a implantação de um aterro sanitário no local onde fica a comunidade remanescente. O quilombo Pitanga dos Palmares fica em uma Área de Proteção Ambiental (APA).

Um homem suspeito de envolvimento no crime chegou a ser preso três meses depois crime, ainda em 2017. Ele negou participação no caso e teve prisão temporária expedida. David Mendez disse ao g1 que esse homem já está solto, porque o prazo legal da prisão acabou.

 

 

Binho era um líder nato, um cara que visava o protagonismo comunitário. Meu irmão deixou três filhos. Quem fez esse crime não tem coração e meu peito agora não tem mais coração, destruíram" , disse Wellington, irmão da vítima

 

Wellington, o filho mais velho de Bernadete, pede justiça nos casos após a idosa ser assassinada a tiros dentro da associação do Quilombo Pitanga dos Palmares, na noite de quinta-feira (17).

 

Não é fácil viver em uma comunidde quilombola onde você visa as minorias. O mesmo que aconteceu com o meu irmão, ontem foi com a minha mãe", afirmou Wellington

 

Líder quilombola foi morto a tiros dentro do carro dele, na cidade de Simões Filho — Foto: Reprodução/redes sociais

Líder quilombola foi morto a tiros dentro do carro dele, na cidade de Simões Filho — Foto: Reprodução/redes sociais

 

Binho tinha 36 anos quando aconteceu o crime. O irmão afirma que ele foi alvo de pelo menos dezesseis tiros. De acordo com a Polícia Civil, a vítima foi surpreendida por criminosos armados, que se aproximaram, atiraram e, em seguida, fugiram.

Em entrevista à TV Bahia, Wellington pediu por justiça nos casos de assassinato de Mãe Bernadete e do irmão, o Binho do Quilombo.

 

Peço, por favor, que se faça justiça. Que não aconteça o que aconteceu com meu irmão. É a chance de elucidar os dois casos", disse Wellington.

 

Território Quilombola de Pitanga dos Palmares, na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia

Território Quilombola de Pitanga dos Palmares, na Bahia — Foto: Reprodução/TV Bahia

18
Ago23

Um retrato do mal

Talis Andrade

 

Ninguém pode esquecer a lista de crimes que envolvem, inclusive, o COVID como arma biológica contra o povo pobre

 

por Marcia Tiburi

Em 2021 desenhei a tristeza e o horror na forma de um Ubu Rei brasileiro. Era um retrato do mal que precisávamos exorcizar. Lutar contra Bolsonaro e tudo o que ele representa nos deu a consciência e a dimensão da nossa potência como povo.  

bozo

 

Há muitas formas de luta contra as guerras perpetrados contra a vida humana na sua dimensão complexa. A arte é uma forma de luta. Ela nos protege do horror nos ensinando a olhara para ele e não virar pedra.  

A imagem acima transitou por manifestações e exposições. Ela serviu para exorcizar o mal.  

Agora, quando a vida dá suas voltas e o tema das joias roubadas está em alta, é importante lembrar que não é só isso. A memória política é essencial para a vida. Sabemos que, pior do que roubar joias do tesouro nacional, é Bolsonaro ter sido um ladrão de sonhos e vidas. Um fato não apaga o outro, os dois dão a dimensão da miséria política e do nível baixíssimo de gente a que estivemos submetidos como nação.  

Ninguém deve esquecer dessa miséria política. Ninguém pode esquecer a lista de crimes que envolvem, inclusive, o COVID como arma biológica contra o povo pobre e da matança programada de povos indígenas como a do povo Yanomami também pelo abandono e pela fome, além do Covid.  

Muita gente ainda segue vivendo sob o terror nas favelas, no campo, nas ruas, nos espaços de luta, mas pelo menos agora podemos caminhar para mudar as injustiças e construir um estado de bem estar social. A alquimia política rumo à democracia é uma obrigação de todos nós, cidadãs e cidadãos, que lutamos com todas as nossas forças pela retomada de um projeto democrático para o país. O povo brasileiro é maltratado, abusado e desrespeitado, mas é também resiliente e bravo e há de segurar a onda da democracia contra o fascismo, apesar da moda fascista ainda estar em alta. É evidente que se o Estado não fizer nada contra isso, o fascismo continuará sendo uma ameaça e seremos nós, como povo, que teremos que continuar a barrá-lo.  

Nesse momento, Bolsonaro tem que ser punido por seus crimes. A inelegibilidade foi apenas um começo de justiça. A prisão é o próximo passo.  

Depois que Bolsonaro for preso, aparecerá o mandante do assassinato de Marielle Franco.  

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