NO ANIVERSÁRIO DE FERNANDO SABIDO SÁNCHEZ
No reino da Poesia
no jardim do Éden
A democracia o bem
republicano feito
com o voto do povo
o poeta canta
e encanta
Sua fortuna
raro tesouro
uma coroa
de louros
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No reino da Poesia
no jardim do Éden
A democracia o bem
republicano feito
com o voto do povo
o poeta canta
e encanta
Sua fortuna
raro tesouro
uma coroa
de louros
A cova de Franco
último covil
dos vis sicários
da Guarda Civil
Os enterros solenes
os imponentes túmulos
os deslembrados nomes
assinalados nas lajes
fúnebre vaidade
dos que juntaram fortunas
às custas dos males
que empestam a terra
a escravidão a fome
a corrupção a guerra
Neste e no outro mundo
o dinheiro não compra nada
Em que chão estão enterrados
Moisés Lao-tsé e Confúcio
Acreditam os judeus
que em Hébron
descansam Adão e Eva
Abraão e Isaac
No Valle de los Caídos
dançam o velho Franco
e sua filha Carmen
a vida desventurada
por nao ser coroada
rainha d Espanha
Os potentados esbanjam
fortunas ofícios e artes
na construção de mausoléus
Empilham ricos tesouros
para os violadores
de túmulos
os profanadores
que perambulam
pela noite escura
Nas faldas da serra
de Guadarrama
Francisco Franco
ergueu particular
separado almocávar
para a continuação
do dissimulado reino
dos cadáveres mumificados
Em Guadarrama
mandou enterrar
velhas damas
de uma nobreza fantasma
generais e sacerdotes
angelicais torturadores
da Espanha de Torquemada
Em Guadarrama
o pequeno suserano
mandou enterrar
melancólica corte
de fanáticos seguidores
megalomaníaco intento
de no inferno possuir
os serviços prazerosos e sujos
de uma legião de servos
sevos aduladores
As flores selvagens
as orquideas e gerânios
os lírios nos campos
encobrem sagrados
perfumados túmulos
encantados túmulos
Nas valas comuns
permanecem invisíveis
as virgens estupradas
Mães operárias
mães camponesas
nutrem com suas carnes
a terra estéril
No ventre d'Espanha
grávida da morte
os corpos dos guerreiros
que não se renderam
Em cada sepultura
sem campa
nas serras e vales
nos montes gelados
no lodo dos lagos
na fonte de lágrimas
os mortos anônimos
malsinam os crimes
do generalíssimo Franco
No azul do céu
nas flores
nos frutos
no vinho generoso
da videira sagrada
a lembrança
Nos verdes gramados
na neve branca
em cada pedaço
do sagrado chão
definitivamente gravado
o nome
Cada recanto da Pátria amada
porque lhe foi negado
um campo santo
guarda
o corpo
O panteão de García Lorca
o coração d´Espanha
Proibido pela censura
o nome de Federico
del Sagrado Corazón de Jesús
García Lorca
não é mencionado
nas cátedras e púlpitos
Mas por todos os cantos
da Velha Espanha
nas ruas do povo
nos campos de concentração
e cavas
escuto o nome inter-
dito secreto nome
sacralizado com sangue
e lágrimas
Lágrimas e sangue
o tempo não lava
Por toda Espanha
o povo sofrido
exige reparação
Todo homem
que sobrevive
clama por justiça
Por toda Espanha
às escondidas
o povo recita
de García Lorca
a imortal poesia
De García Lorca
os enamorados cantam
(e)ternas canções
Na católica Espanha
das mulheres as orações
pela alma de Federico
del Sagrado Corazón de Jesús
Enquanto existir
Andaluzia
o sol a brilhar
enquanto existir
a Poesia
García Lorca
não morrerá
não morrerá
Tudo que Hitler pedia
Franco oferecia
Te entrego cem mil
prisioneiros
Toda uma escória
de comunistas
de anarquistas
de republicanos heréticos
para o treino
dos teus guerreiros
para o teste
do teu armamento bélico
tua legião Condor
teus aviões
tanques
tuas bombas incendiárias
e de fragmentação
Ofereço meus reinos de Portugal
Castela e Aragão
Ofereço a Galiza
a Catalunha
e Madri
Quero que derrubes
o Velho Carvalho
de Guernica
de verdejante sombra
que abriga
os sabios e
indomaveis feras
Ofereço
os santos ofícios
da Santa Inquisição
invento e organização
de mais de 180 campos
Dois em Sevilha
Dois em Alicante
Dois em Barcelona
Dois na Grã Canária
Tenho mais de 180
campos de concentração
O campo de Castuera
o campo de Miranda de Ebro
o campo da península de Llevant
Tenho mais de 180
campos de concentração
Ofereço o Betanzos
Ofereço a Guarda da Pasaxe de Camposancos
Ofereço o Hostal de San Marcos de León
Ofereço o Mosteiro de Corbán
Tenho mais de 180
campos de concentração
Tudo que Hitler pedia
Franco oferecia
pela terrena missão
de ser caudilho
pela graça de deus
O diabo sabe
que deus
Por toda Espanha o ultrage
da propagada imagem
do "caudilho pela graça
de deus"
Estátuas e bustos
colossos erguidos
nas avenidas e praças
A efígie
nas moedas
A desengraçada cara
a última cena
que se vislumbra
todas as noites
no vídeo
de todas as casas
Por toda Espanha
as cidades ostentam
o celeste nome
imposta condição
de rendição e posse
O nome esculpido
no mármore
o nome gravado
em bronze
o nome reluzindo
em ouro
o nome reluzindo
em prata
Por toda Espanha
nas placas das ruas
nos obeliscos
nos arcos de triunfo
no frontispício
dos edifícios
nos vitrais dos palácios
nas manchetes dos jornais
o nome
Em tudo que o tempo destrói
o nome de Franco
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