O povo segue

em um passo cego

o poderoso chefão

O povo conhece

a letra muda

o povão comparece

à solenidade muda

O povão não muda

o chefão não muda

as coisas eternas

permanecerão

O bicho homem

nunca vai mudar

vez por outra

recai nessa

de contemplar

um salva-

dor

Densas baforadas de charuto

atenuam o cheiro nauseabundo

das chagas abertas

dos defuntos

transformados em adubo

nos infindos campos

de sangue

suor

e lágrimas 

(Com trechos de hino estudantil)

Camufla os campos

de concentração

Os hospitais psiquiátricos

evitam improfícuas

e cansativas explicações

Todos os mortais

aprendam a lição

- Stalin uma águia poderosa

que voa cheia de coragem

Stalin a sabedoria dos séculos

Stalin a juventude na terra

Stalin pensa e age

para a felicidade do povo

e das nações

Stalin nunca erra

Em casa acende

a lareira

para uma conversa

ao pé do ouvido

Na rua

as fogueiras

da Ku Klux Klan

Eis que chega

um tempo

em que se fecham

todas as portas

O trem que passa

não pára

Nunca se sabe

de que terra vem

Nunca se sabe

para onde vai

Tudo permanece

em segredo de estado

como se fosse dado

em uma pequena estação

o confronto final

com uma nação inimiga

Pelas janelas fechadas

do cinzento

escuro trem

os prisioneiros se agarram

às réstias

do último sol

Pelas frestas das janelas

os passageiros

se agarram

ao último sopro

de vida

No fechado trem

inquietas sombras

aguardam

o anjo arcanjo apareça

em uma explosão de luz

O anjo arcanjo Miguel

o santo arconte

do povo de Israel

com o rosemunho de suas asas

destrua o dragão

que corre

por secretos trilhos

o dragão que foge

por secretas trilhas

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Desenho David Friedman (1893-1980)