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A Poesia Desconhecida

A Poesia Desconhecida

26
Jun17

INSTANTE ESTANTE

Talis Andrade

Sandrade Santos2.jpg

À Sandra Santos

 

Ora poesia lírica

ora poesia épica

do Grande Rio

do Sul

 

Ora um canto suave

ora um canto áspero

 

- flor e espinho

que lhe fere o coração

ver os filhos da rua

 

saber existem meninas

que ficam nuas

por um pedaço de pão

 

Ora Sandra ora

aos Santos ora

pelo milagre de espalhar

pelas ruas do Porto

 

Alegre multiplicação

de poemas e romances

para que a mão

do povo alcance

 

Ora Sandra ora

do poeta a oração

Oh! bendito o que semeia

livros à mão cheia

e manda o povo pensar

 

e manda o povo pensar

 

 

 

---

Ilustração: Foto Sandra Santos 

 

26
Jun17

LUNAS DE JULIETA VIÑAS ARJONA

Talis Andrade

Julieta Viñas Arjona4.jpg

Quando se foi o sol

Julieta no balcão

se fez poesia

esperando o rouxinol

 

As mãos de Julieta deslizam

pelas cordas de uma harpa

os dedos dando voltas

pela lua de Lorca

 

Seus dedos vão dando voltas

na lua de inúmeras faces

Seus dedos vão dando voltas

na luna violácea

donde unos poetas

beben cazalla

y otros traman

nuevos despropósitos

 

Julieta no balcão

se fez música

amanhecia o dia

nem percebeu

a companhia

de uma cotovia

 

 

---

Ilustração: Foto de Julieta Viñas Arjona

 

 

 

26
Jun17

VINTE

Talis Andrade

nina rizzi feira.JPG

para Nina Rizzi

 

Pelos vinte dedos que representam a unidade

o homem e o Deus solar

Pelos vinte poemas de amor de Neruda

e uma canção desesperada

Pelos vinte pés quadrados de terra medida

para plantar o milho preciso

à sobrevivência de um vivente

Pela minha alma perdida

 

contarei os vinte’agosto

sonhando a colheita sagrada

do teu corpo

que busco na distância

 

Mais fundo minhas mãos penetrem

o medo

sejas uma visagem

alucinação

no desvario de ser

de outras eras

de espera

 

 

---

Ilustração: Fotografia de Nina Rizzi, por Talis Andrade

 

 

 

 

26
Jun17

INVOCAÇÃO DO NOME

Talis Andrade

Líria Porto.jpg

 

Quantas coroas de lírio

quantos mares

quantos naufrágios

para quem só tem olhos

para o imaginário

 

Quantos mares de travessia

Líria viu

Quantas sereias 

Líria ouviu o canto

delírio dos marinheiros

passageiros da nau dos loucos

que só a poesia oferece Porto

 

 

----

Ilustração: Foto de Líria Porto

25
Jun17

O DOTE DE RAQUEL

Talis Andrade

Sete anos

de análise

Sete anos

de freudiana leitura

 

Sete anos

deitado em um divã

vendo a mesma cara

com um imponente

cavanhaque de bode

 

Sete anos de estágio

sete anos de aprendizado

Depois de sete anos

de trabalho escravo

Jacó casou com Lia

supondo fosse Raquel  

 

Sete anos se passaram

Jacó a dormir com Lia

 

Sete anos pareceram

sete dias

pelo muito que Jacó

amava Raquel  

 

Formosa à vista

Raquel transfigurava

o deserto da servidão

em visão sublime

 

 

13
Jun17

O VERMELHO E O CINZA

Talis Andrade

Carl Heinrich Bloch   The Raising of Lazarus.jpg

 

--

Por longínquo caminho

no silêncio do túmulo            

o que Lázaro viu             

as marcas da cruentação

ou do vermelho enxofre             

no branco linho             

a enfaixar o corpo

 

O que Lázaro viu             

o fúnebre cortejo             

de uma procissão            

de esqueletos             

em dia de finados

O que Lázaro viu             

no infinito campo

embaçadas figuras

como acontece             

ao irmão boi             

resignado à sina             

de pastagens             

em tons cinzas

 

Contenta a Lázaro             

nesta segunda passagem             

tudo recomece             

donde o fio             

da vida se partiu             

ou apenas tem olhos             

para o imaginário             

o que poderia ter sido             

e não foi A intentada             

excitante aventura             

por lendárias terras             

visagem de um mundo             

paradisíaco inatingível               

 

No silêncio do túmulo             

preferiria Lázaro             

a viagem sem volta             

por um túnel de luz             

o corpo arrebatado             

sobre as nuvens             

o corpo vestido de vazio             

o corpo livre             

do amargor da carne               

 

Nesta segunda passagem             

que espera Lázaro             

o açoite da nudez             

de João Batista             

a nudez contida             

em uma vestimenta             

de pêlos de camelo             

o cinto de couro             

em volta dos rins             

garroteando os impulsos             

convulsivos repulsivos               

 

Que espera Lázaro             

o dom da palavra

a língua de fogo

coriscando o ar             

como um raio             

a palavra que incendeia

e queima

a palavra que amaldiçoa             

e fere             

mais afiada             

que o gume             

de uma cica             

 

Que espera Lázaro             

a ofuscante nudez de Davi             

a dançar e cantar             

triunfante ao som             

de harpas e cítaras             

de tamboris e trombetas             

de sistros e síbilos             

pelas ruas de Jerusalém             

para ser ungido rei               

 

Simplesmente seguir             

uma nova vida

em vestes magnificentes             

de púrpura e ouro             

gozar os festins             

o vinho do delírio             

o deleite das dançarinas             

na dança pastoril             

a posse febril             

de um corpo de mulher             

o corpo suave promessa             

de orgasmo e paz               

 

Que deseja Lázaro             

se nenhum livro             

nenhuma carta             

nenhum parente             

nenhum amigo             

jamais registrou             

uma palavra sua               

 

De Lázaro apenas             

se sabe vivia             

com duas irmãs             

e depois de quatro             

dias no túmulo             

aparece Jesus e chama             

- Lázaro             

vem para fora               

 

Jesus ordenou             

Lázaro             

fosse libertado             

das faixas             

e retirado o lenço             

que lhe cobria o rosto  

 

Para todo sempre

as marcas da cruentação

do vermelho enxofre             

no branco linho             

a enfaixar o corpo  

 

Lázaro não estava livre

da morte

De Lázaro o milagre             

de uma segunda vida 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 

---

Ilustração: A Ressureiçõ de Lázaro, por Carl Heinrich Bloch 

02
Jun17

O ESTRANHO SEGREDO

Talis Andrade

fulvio-pennachi-3.jpg

De estranho e raro

viu Lázaro             

na insólita viagem             

pelo vale da morte               

 

O que Lázaro viu             

a ninguém revelou  

 

Os viventes não entendem             

sequer o que se passa             

neste nosso avaro             

temeroso mundo 
 


 

---

Ilustração: A Ressureição de Lázaro, por Fulvio Pennachi

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